A
alegoria da caverna de Platão não deve ser lida fora do Corpus
Platonicum. Pois ela é a alegoria do desvelar de uma verdade
específica, contextual, não da manipulação e ocultação televisiva da
dimensão social real. Há implicações metafísicas e gnosiológicas
no tema de tal mito - como a questão do que é o "real" em
sua própria concepção. E essas implicações fazem com que o mito não possa ter um
fim em si mesmo para servir a qualquer coisa, isto é, á maneira figurada, senão á filosófica. Ao passo que é notável a estranheza de se
pensar - até para um mito - que tais prisioneiros se encontram numa
situação tão incomum, que é a de jamais enxergarem a
luz do sol refletida nas coisas, conforme tomam as sombras dos objetos projetadas na parede da caverna, como os próprios objetos, negando qualquer outra realidade. Sequer esse enredo do livro sétimo da República é o
mais importante para entender a filosofia. Talvez fosse importante por sua
designação pedagógica e ilustrativa, para não-filósofos e
não-geômetras aceitarem a figura do rei filósofo que a estória
ganhou tanta fama, no desejo de Platão doutrinar politicamente o
povo para a construção da cidade ideal.
Mas como a filosofia não se mantém no plano imagético, ou seja, filosofia não é mitologia. A alegoria da caverna deixa de ter um fim principalmente mitológico e ganha seu verdadeiro fim na compreensão metafísica. Caso não se entenda a verdade que Platão predispõe com essa alegoria, a sua aplicação será errônea, isto é, tal alegoria antecipa um "télos": a trajetória única do filósofo, que ele realiza na juventude se iniciando no plano físico, pelas disciplinas que agucem seus sentidos ás virtudes ligadas a verdade, como moderação na ginástica e a justa medida na música, para mais tarde, com a geometria, encontrar o enfoque teórico e sagrado na metafísica(a contemplação das formas primeiras e últimas que dão causa a todo resto; o sol situado além da caverna que banha o íntimo da realidade ao revelar sua natureza) - sendo um caminho sem volta o da contemplação, por sua sobriedade e concretude eterna (afinal, há seis livros anteriores que explicam tais detalhes, e por mais que a ordem dos livros seja póstuma, Platão não os escreveu á toa).
Mas como a filosofia não se mantém no plano imagético, ou seja, filosofia não é mitologia. A alegoria da caverna deixa de ter um fim principalmente mitológico e ganha seu verdadeiro fim na compreensão metafísica. Caso não se entenda a verdade que Platão predispõe com essa alegoria, a sua aplicação será errônea, isto é, tal alegoria antecipa um "télos": a trajetória única do filósofo, que ele realiza na juventude se iniciando no plano físico, pelas disciplinas que agucem seus sentidos ás virtudes ligadas a verdade, como moderação na ginástica e a justa medida na música, para mais tarde, com a geometria, encontrar o enfoque teórico e sagrado na metafísica(a contemplação das formas primeiras e últimas que dão causa a todo resto; o sol situado além da caverna que banha o íntimo da realidade ao revelar sua natureza) - sendo um caminho sem volta o da contemplação, por sua sobriedade e concretude eterna (afinal, há seis livros anteriores que explicam tais detalhes, e por mais que a ordem dos livros seja póstuma, Platão não os escreveu á toa).
Ao não ler e nem conhecer Platão, aplicando uma de suas alegorias, corre-se tanto o risco de achar que saiu de uma caverna e logo entrar em outra, quanto amparar-se na sombra da sombra(não é isso a filosofia, um labirinto de cavernas). Se quiser ler Platão como ele deve ser lido,
entenda que as consequências dessa alegoria são divinas, não
meramente sociológicas. Pois por si(sem a metafísica), esse mito é
sem sentido, ou poderia mesmo dizer "insignificante".
Por Marcelo Monteiro